terça-feira, 14 de junho de 2011

Dia 12 de junho

Não sou muito apegado à datas. Confesso que as considero como um precipício comercial. Quanto mais se divulga, mais se consome. Dia das crianças, dia do médico, dia do advogado, dia do estudante. Seja "pendurando" conta ou presenteando alguém, sempre seguimos o curso da mídia onde cada dia que segue, como todo dia é santo, também tem algo para se comemorar.

Longe de mim desfazer-me de comemorações. Aliás como bom boêmio que sou, adepto de confraternizações regadas à uma boa música, boa conversa com ótimas companhias, bato certo e derradeiro ponto em comemorações de calendário, e me divirto como todos meus pares. Mas minha única razão de estar numa festividade é ser amante dela e jamais adequar-me à data da qual se comemora, excetuando-se às primaveras.

De todas as datas que foram criadas, uma acaba por intrigar-me demais quanto ao ser humano. O dia dos namorados. Este dia é ímpar para quem está solteiro. É impressionante como todos se vangloriam de estarem sem ninguém, mas lamentam sua solidão temporária no dia 12 de junho. E se veem em todos os lugares o desdém por este dia. Ofensas ao romance, lamentos alheios e agradecimentos por não estarem com a pessoa amada. Puro teatro. Quando se aproxima o dia, recorrem à agenda e aos "lances" que possuem no intuito de cravar um selo de companhia para a data.

É justamente daí que surge meu desapontamento. As pessoas procuram pares para usá-los no dia dos namorados por conta de uma vaga ilusão de combater a solidão. Mas a solidão não se combate, porque não é inimiga. A solidão disfarça-se de má companhia. Encontramos pessoas que não preencheram nossa vida da forma que sonhamos e acabamos por nos sentir mais vazios no dia seguinte.

Porque só tem como nos relacionarmos nesse dia com pessoas que conhecemos. E se estamos solteiros, implica dizer que exatamente essas pessoas que conhecemos não são o que procurávamos. Guardadas suas proporções, é claro. Todavia, o foco não é a data e sim nosso estado civil.

É preciso que vivamos o amor todos os dias. Pois se existisse apenas um dia para celebrar o romance, de que seriam os outros 364? Se não possuírmos alguém pra dividir estes outros, de que vale apenas um dia? De que vale ter uma companhia para demonstrar que não estamos sozinhos nessa data, quando a pessoa que desejávamos que estivesse conosco não é a que de fato está?

Enfim, como forma de desabafo, utilizei esse post. Porque justamente a pessoa que gostaria de dividir esses dias, não foi uma daquelas que me ligou apenas para dividir um dia. Porque embora eu tenha natureza humana e carência afetiva, preferi ser fiel. Fiel ao meu princípio de relacionar-me. Despido de intenções impregnadas na sociedade. Pois a saudade não fala através do ato de vasculhar agenda. Sendo assim disse não. Ignorei a mensagem de texto. E não respondi ao email. Lamento mas ser objeto não é do meu feitio. E tampouco será.

Fujo de estereótipos. Sou romântico, não massa de manobra. Não busco felicidade naquilo que me dizem. Busco naquilo que acredito. E eu realmente acredito que só vou encontrar a pessoa certa para passar todos os dias dos namorados comigo estando solteiro. Porque afinal de contas, para começar a namorar, é preciso estar solteiro.

Você pode não pensar assim. Ou você pode. Esse pode ser ser você. Ou pode não ser. Mas o fato é que esse sou eu. E é assim que eu penso.

3 comentários:

  1. Nossa, adorei o texto Renato. Você escreve muito bem! E gostei do seu pensamento também (e da sua atitude).

    "Mas a solidão não se combate, porque não é inimiga". A maior dificuldade que encontramos em estarmos sós é a convivência com nós mesmos. Quem não consegue ficar só, tampouco consegue ser boa companhia para alguém. Vive uma busca incessante em tapar buracos interiores.

    http://meiocancaomeiopoesia.blogspot.com

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  2. É exatamente como eu penso. Para viver com alguém, é necessário primeiro sabermos viver sozinhos.

    Vou frequentar seu blog sempre também. Adoro poesias.

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