sexta-feira, 1 de julho de 2011

E se...

Costumeiramente, sou refém de meus pensamentos de tal forma que me transporto para um mundo do qual não há contato com a realidade à minha volta. Nesse momento, conjecturas de possibilidades se abrem para redefinir meu passado mais presente. Transformando aqui e aculá, desdobrando os "sins" em "nãos" e vice-versa, para que a tônica da minha realidade atual tome travessias totalmente inaugurais.

E em dada ocasião, os caminhos percorridos, desvairados de abstinência e de impulsos refreados pela racionalidade, tornam a encontrar uma única razão para tais atos. Rememorando o que se foi e dando novas formas ao destino, acabo desembocando sempre no que deixa minhas decisões atuais em xeque com um simples questionamento: e se...

E se eu a beijasse quando nos fitamos longamente assim que nos conhecemos? E se eu dissesse que não estava tudo bem em tê-la apenas como amiga? E se em nossas horas de conversas juntos fossem adicionadas indiretas sobre meus sentimentos? E se aquele dia em que me deitei ao seu lado eu não fingisse que não havia atração? E se eu não me importasse tanto com nossas diferenças de mundos? E se quando ela perguntou se eu tinha certeza sobre meus sentimentos eu dissesse a verdade? E se eu tivesse enviado as mensagens de texto que escrevi? E se tivesse entregado as flores que comprei? E se todos que diziam que éramos feitos um para o outro tivessem razão? E se meus olhos tivessem razão? E se eu acreditasse em meu coração? E se eu não negasse que estava completamente apaixonado? Ou pior, e se ela sentisse o mesmo e estivesse apenas esperando meu sinal?

Nesse turbilhão de alternativas, tudo o que resta é a ínfima reposta que nos remonta ao pior dos temores que o ser humano possui. Medo. O temor de não ser correspondido nos afronta de modo a abreviar nossas atitudes. Minoramos a cada refletir as nossas oportunidades para o encontro das almas gêmeas. A racionalização dos sentimentos é o câncer do amor. É a quimera capaz de aniquilar a chama da paixão. A cada análise de oportunidades, consideradas sob a perspectiva do sucesso e do fracasso, somos levados à inércia. O medo nos emudece. Nos faz devolver a flecha do cupido sob alegação de estar defeituosa. A hesitação que segue, a melhor escolha das palavras, o silêncio entorpecente diante da pessoa amada esfacela e torna pueris nossas melhores intenções.


Perdemos batalhas ganhas, por crer no pessimismo. A melhor definição de loucura é aquela em que fazendo exatamente a mesma coisa, desejamos obter resultados diferentes. A verdade é que no amor, não há espaço para a indecisão e tampouco para o receio. O amor é impensado, burla, ludibria e bloqueia a reflexão. Não há motivo para repensar. O amor sai do coração e não perfaz o caminho para o cérebro. E simplesmente porque este não é seu destino. O destino do amor é outro coração. Ao cérebro, guardam-se pensamentos. Aos corações guardam-se amores.

Há um simples e direto ditado utilizados em noites de baladas, mas que não evoca melhor momento para sua ilustração: Não há nada a perder, o não eu já tenho. Vou em busca do sim. Adaptado para o amor, já temos a solidão. Nos resta buscar a felicidade! Perderemos mais refreando nossas atitudes ou tentando conquistar a pessoa amada? As maiores descobertas do mundo foram conquistadas através de tentativas. Assim como os maiores amores.


Caso contrário seremos eternamente prisioneiros de duas simples palavras capazes de desviar nossa vida para caminhos indesejados. Pois a todo tempo detemos a escolha. A decisão está ao nosso alcance. E é essa faculdade de agir positivamente que deve prevalecer perante à hesitação. É preferível o arrependimento pelo ato do que a dúvida pra sempre. Por sorte, ainda temos escolhas a fazer, caminhos a trilhar.

Então corra. Busque. Vá. Tente. Declare-se. Faça. Acredite. Confie. Mande. Beije. Ame.

E se pintar a dúvida, guarde-a para o futuro. Pois é onde elas devem sempre estar. No passado estão as lembranças, no presente estão as atitudes, no futuro, as dúvidas. Mais vale viver com a felicidade pensando como seria sua ausência que refletir sobre o oposto. Portanto, deixe aquele "e se" para as ocasiões em que a vida e a realidade são tão boas que o questionamento surge de forma inversa à do início: - E se eu não fosse tão feliz? E se eu não tivesse buscado por isso?

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